Coluna do Presidente, n° 84
por PH, em 30 de março de 2010

ELLITE HOMENAGEIA O MESTRE DA CRÔNICA ESPORTIVA, ARMANDO NOGUEIRA

Na condição de único time do futebol soçaite do Rio – e imagino também do Brasil – a abrir espaço em seu site para textos que relatam os jogos do time e, mais do que isso, uma coluna periódica sobre o nosso futebol amador, sinto-me obrigado a prestar uma singela homenagem ao maior colunista esportivo (na verdade um cronista, um poeta!) que tive a oportunidade de acompanhar (li vários textos de Nelson Rodrigues e também de João Saldanha, mas infelizmente não tive o privilégio de lê-los ainda em atividade). Por isso, pra mim, Armando Nogueira foi o maior.

Os textos de Armando Nogueira, que comecei a ler no Jornal do Brasil no início dos anos 2000, são simplesmente fantásticos, porque falam do futebol com um lirismo que nos contagia e nos encanta, sobretudo em uma época de tecnicismo exacerbado como nos dias de hoje. Em suas crônicas, ele falava não apenas de futebol, mais também de vida, do ser humano e da sua essência.

É o que podemos ver em várias de suas frases que ficaram marcadas. Uma delas é emblemática... É sobre o conceito que tinha a respeito do futebol:

"Mais importante do que o jogo é a jogada; mais importante do que a jogada é o jogador; mais importante do que o jogador é o homem." É a concepção de que o futebol vai muito além das quatro linhas. É o futebol sim, magnífico, mas, antes de tudo, é a vida – a vida que ele descrevia com tanta maestria.

Outro trecho também sublime retiro de um poema que ele escreveu em comemoração aos 40 anos do Maracanã, e que está imortalizado em uma placa no estádio. Ao final de um poema belíssimo, ele diz: "És, enfim, a vitória e a derrota, caprichosa imitação da minha vida".

Outras frases imortalizadas por ele, igualmente fantásticas:

"Para Garrincha, a superfície de um lenço era um latifúndio".

"Se Pelé não tivesse nascido homem, teria nascido bola".

"A bola é uma flor que nasce nos pés de Zico, com cheiro de gol".

Termino com um trecho de uma crônica de 1966, com a qual ele inaugurou a sua coluna intitulada "Na grande área", primeiramente na "Tribuna da Imprensa" e, depois, no JB. Não me canso de ler. É uma obra prima!

"Tudo acontece na grande área: a guerra de Pelé e a guerrilha de Garrincha, o chute fatal, a rebatida heróica, o drible temerário de um beque, a tragédia do goleiro em cujos pés solitários a grama não floresce; na grande área, ressoa, implacável, a hora da verdade, erguendo e derrubando mitos no gesto simples de chutar uma bola; na grande área, nasce o gol, nasce o infarto que mata de emoção o torcedor; na grande área, onde os homens se acovardam e se engrandecem, a rasteira é pecado que no ato se paga pelo castigo do pênalti, entidade tão decisiva no destino de um jogo que, segundo um velho pensador do futebol, só devia ser cobrado pelo presidente do clube; nos canteiros da grande área, os pés imortais de Domingos da Guia pisando a grama de leve para não magoar a própria semente de sua área – Nilton Santos".
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